segunda-feira, 16 de maio de 2011

ONNIM- Prof. Marcos Ferreira - Espirito Sangoma - 16/05/2011

Iniciamos hoje nosso ONNIM II Ciclo de Palestras com o Prof. Marcos Ferreira, foi uma noite quente apesar da garoa e do frio. Aquecemos nossos corpos em todas suas dimensões, abaixo vai apenas um relato breve sobre a noite de hoje.


Espírito Sangoma

Uma comunidade matrial é aquela que tem elementos femininos, mas não está ligada a questão meramente de gênero, mas algo maior que é o principio feminino de acolher, abraçar e ajudar. Como a plantação que é o enterro (morte) da semente na terra, há a transformação/fecundação e o nascimento (nova planta).
A maternidade é relação espelhada da terra e a mulher.
Para o homem ancestral a menstruação é uma morte todo mês que traz o poder da vida. Então a mulher seria um ser muito forte, pois transita pela morte e dá a vida. Depois da criação do Estado, com suas leis escritas, o homem vai de frente com o poder natural feminino e cria separações e o modelo patriarcal.
Na cultura Yoruba existe uma escultura Mawa (segredos do ferro, masculino) e Lissa (rito de fertilidade, feminino) que seriam pré anúncios de Ogum e Oxum, que estão abraçados e representam essa unidade, onde um não se sobrepõe ao outro, suas forças são iguais importantes para construção da comunidade.
Existem muitas esculturas onde aparece o filho junto ao corpo da mãe, Capulanas, seriam como uma gestação fora do corpo.
No mundo Zulu, Sangoma tem três significados:
• As contas (colares): São usados pelas mulheres Masai e suas contas contam suas histórias, ou seja, pelos colares e enfeites de cabeça é possível saber se ela é casada, solteira, se está ou não disponível para relacionamento;
• O Canto ( música): sinalizam a função que a pessoa exerce na comunidade;
• O Santo (herança ancestral) : Curandeiros da comunidade, quem mantém o equilíbrio natural, espiritual e em sua maioria são mulheres. A pessoa é escolhida pelos ancestrais, começa com sonhos repetitivos e isso é o um dos chamados. Há uma música de iniciação que se chama Angnalana que significa : “ eu não consigo dormir” e a partir disso começa a aprender com outros Sangomas sobre a natureza e seus segredos.
Do ponto de vista ancestral não existe sociedade, é comunidade. O Sangoma só vai existir nesse contexto.
Quando alguém está doente o Sangoma começa o rito com um canto para entender o que está acontecendo e depois utiliza ervas e geralmente a dança, pois ela é entendida como cura e pode resolver muitos problemas.
Aqui no Brasil houve uma resignificação do Sangoma, que virou Cangoma na canção que Clementina de Jesus canta : “ Tava durumindo Cangoma me chamou/ Tava durumindo Cangoma me chamou/Disse: Levanta povo, cativeiro já acabou...”.E a figura das benzedeiras também representa essa ligação.
A pessoa é o entrecruzamento de dois planos, o espiritual (divino), ou seja, é parte do todo ou expressão do todo, o divino penetra o humano e o humano penetra o divino. A natureza é a comunhão divina. E o corpo mantém essa contração expansão o tempo inteiro.
O corpo possui cinco líquidos sagrados: a lágrima, a saliva, o suor, o sêmen e o fluxo menstrual. Como são sagrados só podemos oferecer para quem amamos.
A lágrima é o transbordamento, quando não se cabe mais, vaza. Lamber a lágrima de alguém é como trazer pra si aquela emoção. Em todas as comunidades o beijo é algo sagrado, pois compartilha a saliva. O suor umedece as almas. Na menarca (primeira menstruação) a menina não pode pisar o chão até que ela se regenere, há uma preocupação e o fluxo menstrual no decorrer da vida adulta, não será impeditivo para o amor. Na cultura ocidental a menstruação é mácula, sujeira, pecado. O sêmen é mais do que fecundação é aquilo que comunica, compartilha, não pela função reprodutora, mas a grande energia vital.
Se nossos líquidos são tão importantes e sagrados é necessário ter preocupação com o que se ingere. O respeito com teu corpo desperta o respeito com o corpo do outro, além da relação amorosa, é uma devoção, celebrar o outro, alguém presente, no tempo presente, que é um presente.
Ao visitar nossos porões encontramos nossa ancestralidade.
Ancestralidade é um traço de que sou herdeir@, que é constitutivo do meu processo identitário e que permanece para além da minha própria existência.
Acessar nossa ancestralidade é “Ser nós mesmos”.

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