Sikassambe
“Um convite cantado para todas as forças da natureza estarem em equilíbrio.”
Regina Goulart é Kota(cargo em sua nação do candomblé) Mulangi (a combatente).
Falar da saúde negra a partir de uma visão africana tem que começar pelo nome, ele tem uma funcionabilidade.
“A canção dos homens” – quando se nasce, você recebe seu nome e sua música, essa vai dizer por que e pra que veio. Quando a pessoa faz algo que tem haver com seu nome, no seu aniversário, em rituais em geral, todos cantam sua canção.
Quando deixamos cadeiras vazias, os inquisis estão presentes.
Falarei da saúde a partir não só do olhar da medicina, mas também de minhas vivências como Kota na religião Banto.
Capulanas e Umoja são espaços potenciais de vida, espaços onde as pessoas exercem a vida.
Médico é a pior pessoa para falar de saúde, pois é treinado para falar de doenças. Saúde é o equilíbrio entre corpo, meio, ancestralidade e o caminho.
Eu alimento o ancestral, meu caminho e a minha cabeça.
A dança alimenta a ancestralidade, quem vê, alimenta a cabeça, pro caminho eu não danço, paro, vislumbro e vou.
Do ponto de vista da medicina não tem raça. Um fóssil não tem como ver como ele viveu, que meio, se negro ou branco. Então temos que pensar em etnia. Algumas doenças são ligadas a origem, mas o racismo, o pensamento de raça superior e inferior, faz com a saúde da população negra esteja ligada as relações de poder.
As categorias: negros, asiático, indígena, foi criada a partir de um poder do branco de nominar o diferente. A pergunta sobre etnia é subtrair esse poder e dar direito a auto declaração.
Uma menina considerada branca, se auto declarou negra e todos ficaram em choque e dizendo que não e ela disse: “Permitam que eu declare o meu amor pela minha mãe.”
Qualquer equipamento de saúde tem medicina chinesa, hoje. É necessário sistematizar as danças negras considerando sua relação com saúde, elas podem diminuir diversas doenças de articulação e muscular. A maior tensão do corpo se acumula no trapézio (músculos dos ombros) e é uma das regiões mais trabalhadas nessas danças. Além promover a circulação de sangue, previne o alzheimer, pois oxigena o cérebro,evita osteoporose, cria identidade, traz equilíbrio.
O capitalismo engoliu a visão de mundo africana. A criança nasce a mãe acha que o neném é nervoso, mas ele tem medo quando tira a roupa, porque estava em lugar apertado e quente e aí é necessária a capulana, trazer o calor do corpo da mãe. É necessário trazer esses valores.
A hipertensão tem que ter um tratamento diferenciado na população negra, a medicação tem que ter um bloqueador de cálcio, pois assimilação do sódio é maior, por isso retemos muito líquido. Captopril não serve.
70% das mulheres negras tem parto vaginal, pois existe o estereótipo de que são mais parideiras e é uma grande mentira, pois são as que tem menor passagem na bacia e adequação ao parto vaginal.
A questão da saúde negra ainda está muito ligada às questões biológicas, mas devemos pensar em outras relações.
Uma criança falciforme, desde 2001, é identificada no exame do pezinho, isso diminui a mortalidade infantil.
O mioma quando detectado nas mulheres negras o procedimento é de arrancar o útero inteiro e na mulher branca só o tumor é retirado.
O povo negro africano não tem hipertensão. Na diáspora forçada era dado sal para reter líquido e os genes são repassados. Os africanos que vivem em meios urbanos ,hoje, têm hipertensão.
O segundo fator de morte da população negra é a violência. As cotas é uma política de enfrentamento da violência, os negros universitários morrem menos. A luta anti manicomial, pois 60% são negros.
“Tornar-se Negro” é um livro de Neuza Santos que fala da cicatriz de ter um corpo não amado.
A questão da saúde mental é muito importante. As mulheres negras têm resiliência, mas é necessário demonstrar a dor. Tá rindo Por quê? Quanto isso gera dor? Não tem como ser forte sempre.
A droga aumenta o consumo pelo nosso povo, pois é uma fuga de estar e ser o que é. A obesidade é gerada pelo exagero no prazer de comer.
Terapia comunitária é nada mais que cantar sua cantiga. Nós cantamos o que somos, a visão de mundo africano saúda o corpo.
Dizer que ama e ser amado. Se eu sou invisível, como vou ser amad@?
Homens negros se transformaram em reprodutores apenas. O estereótipo de “bom de cama”...Quem é “bom de cama” não tem tempo de pôr camisinha...O câncer de próstata tem aumentado entre os homens negros. Há uma banalização das DSTs. A HPV ou antiga crista de galo, pode se transformar em câncer de colo uterino, algumas meninas pegam com 12, 13 anos aos 25 estão com câncer e morrem com 35 anos.
Mas a saúde é possível nesses espaços potenciais de vida, como as comunidades tradicionais de matriz africana.
Cultura e identidade refletem na saúde física.
Quando se está na universidade, lugar de pensamento branco. Como curar a guerra psicológica da solidão? De onde vem a dor? Como dividir essa dor, com quem? Se você não sabe nomear essa busca de tornar-se negro, pode haver a loucura. Essa é uma parte de sua essência e você tem que ter com quem compartilhar.
“Voltei a viver quando me aproximei das questões raciais. Voltei a ter saúde” – Ana Koteban.
Quando você desagrega tem que recolher, se reaproximar de sua ancestralidade.
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