terça-feira, 31 de maio de 2011
Capulanas no " Alicerces da voz, cadências do verbo" dia 11/06/2011
Edições Toró convida para “Alicerces da Voz, Cadências do Verbo: Escritoras de Brasil, América Latina e Áfricas” - 03, 04, 10 e 11 de junho de 2011
Debates, sambas, recitais e cenas - Na Biblioteca Municipal Alceu Amoroso Lima: Rua Henrique Schaumann, 777 – Pinheiros, São Paulo/SP
Em 03, 04, 10 e 11 de junho, sempre às 19hs - Conferir mais detalhes e cartaz do encontro no www.edicoestoro.net
*Sexta-feira 03/06, às 19hs - Voz, Fonte da Letra - Mulheres & Samba:
Raquel Trindade (Pintora, coreógrafa, escritora)
Maria Helena (Embaixatriz do Samba de SP, Presença Histórica na Rosas de Ouro),
Claudia Adão (Porta-bandeira da Flor de Vila Dalila)
Apresentação: Adriana Moreira canta "Elizeth, Clara e Elza"
*Sábado 04/06, ás 19hs: África e Américas Negras
Ana Paula Tavares (Poeta de Angola) por Cristiane Santana (Professora e Pesquisadora de Literaturas Africanas)
Paulina Chiziane (Romancista de Moçambique) por Ianá Souza (Pesquisadora de Literaturas Africanas)
Marise Condé (Romancista de Guadalupe) por Luana Antunes (Professora e Pesquisadora de Literaturas Africanas)
Apresentação: "Me gritarón negra", com Danielle Almeida e Luciane Ramos cantando e dançando letras de mulheres negras sul-americanas.
*Sexta-feira 10/06, às 19hs: Latino-América
Laura Esquivel (Romancista do México), por Sonia Bischain (Jornalista, romancista e poeta do Coletivo Sarau da Brasa)
Gioconda Belli (Poeta e romancista da Nicarágua), por Carolina Teixeira (Artista plástica e poeta)––
Rigoberta Menchú (contista e líder indígena da Guatemala), por Lucía Tennina (Professora de Literatura na Universidad de Buenos Aires, pesquisadora da literatura periférica de SP)
Apresentação: "Agua de Lluvia", com Amandy González (poeta, atriz e dramaturga paraguaia)
*Sábado 11-06, às 19hs – Negras Brasileiras Contemporâneas:
Conceição Evaristo (Poeta e romancista) , por Evani Tavares (Atriz, Pesquisadora de Teato Negro e Escritora)
Maria Tereza (Poeta e Atriz), por Renata Felinto (Artista Plástica, Educadora e Pesquisadora)
Cidinha da Silva (Contista e Cronista), por Flávia Rios (Socióloga e Professora)
Apresentação: "Quando as palavras sopram os olhos... Respiro!" (baseado em textos da escritora cubana Tereza Cárdenas), com Capulanas Cia de Arte Negra.
Concepção, curadoria e mediações: Allan da Rosa
ONNIM - Dra. Regina Goulart - Saúde da População Negra - 20/05/2011
Sikassambe
“Um convite cantado para todas as forças da natureza estarem em equilíbrio.”
Regina Goulart é Kota(cargo em sua nação do candomblé) Mulangi (a combatente).
Falar da saúde negra a partir de uma visão africana tem que começar pelo nome, ele tem uma funcionabilidade.
“A canção dos homens” – quando se nasce, você recebe seu nome e sua música, essa vai dizer por que e pra que veio. Quando a pessoa faz algo que tem haver com seu nome, no seu aniversário, em rituais em geral, todos cantam sua canção.
Quando deixamos cadeiras vazias, os inquisis estão presentes.
Falarei da saúde a partir não só do olhar da medicina, mas também de minhas vivências como Kota na religião Banto.
Capulanas e Umoja são espaços potenciais de vida, espaços onde as pessoas exercem a vida.
Médico é a pior pessoa para falar de saúde, pois é treinado para falar de doenças. Saúde é o equilíbrio entre corpo, meio, ancestralidade e o caminho.
Eu alimento o ancestral, meu caminho e a minha cabeça.
A dança alimenta a ancestralidade, quem vê, alimenta a cabeça, pro caminho eu não danço, paro, vislumbro e vou.
Do ponto de vista da medicina não tem raça. Um fóssil não tem como ver como ele viveu, que meio, se negro ou branco. Então temos que pensar em etnia. Algumas doenças são ligadas a origem, mas o racismo, o pensamento de raça superior e inferior, faz com a saúde da população negra esteja ligada as relações de poder.
As categorias: negros, asiático, indígena, foi criada a partir de um poder do branco de nominar o diferente. A pergunta sobre etnia é subtrair esse poder e dar direito a auto declaração.
Uma menina considerada branca, se auto declarou negra e todos ficaram em choque e dizendo que não e ela disse: “Permitam que eu declare o meu amor pela minha mãe.”
Qualquer equipamento de saúde tem medicina chinesa, hoje. É necessário sistematizar as danças negras considerando sua relação com saúde, elas podem diminuir diversas doenças de articulação e muscular. A maior tensão do corpo se acumula no trapézio (músculos dos ombros) e é uma das regiões mais trabalhadas nessas danças. Além promover a circulação de sangue, previne o alzheimer, pois oxigena o cérebro,evita osteoporose, cria identidade, traz equilíbrio.
O capitalismo engoliu a visão de mundo africana. A criança nasce a mãe acha que o neném é nervoso, mas ele tem medo quando tira a roupa, porque estava em lugar apertado e quente e aí é necessária a capulana, trazer o calor do corpo da mãe. É necessário trazer esses valores.
A hipertensão tem que ter um tratamento diferenciado na população negra, a medicação tem que ter um bloqueador de cálcio, pois assimilação do sódio é maior, por isso retemos muito líquido. Captopril não serve.
70% das mulheres negras tem parto vaginal, pois existe o estereótipo de que são mais parideiras e é uma grande mentira, pois são as que tem menor passagem na bacia e adequação ao parto vaginal.
A questão da saúde negra ainda está muito ligada às questões biológicas, mas devemos pensar em outras relações.
Uma criança falciforme, desde 2001, é identificada no exame do pezinho, isso diminui a mortalidade infantil.
O mioma quando detectado nas mulheres negras o procedimento é de arrancar o útero inteiro e na mulher branca só o tumor é retirado.
O povo negro africano não tem hipertensão. Na diáspora forçada era dado sal para reter líquido e os genes são repassados. Os africanos que vivem em meios urbanos ,hoje, têm hipertensão.
O segundo fator de morte da população negra é a violência. As cotas é uma política de enfrentamento da violência, os negros universitários morrem menos. A luta anti manicomial, pois 60% são negros.
“Tornar-se Negro” é um livro de Neuza Santos que fala da cicatriz de ter um corpo não amado.
A questão da saúde mental é muito importante. As mulheres negras têm resiliência, mas é necessário demonstrar a dor. Tá rindo Por quê? Quanto isso gera dor? Não tem como ser forte sempre.
A droga aumenta o consumo pelo nosso povo, pois é uma fuga de estar e ser o que é. A obesidade é gerada pelo exagero no prazer de comer.
Terapia comunitária é nada mais que cantar sua cantiga. Nós cantamos o que somos, a visão de mundo africano saúda o corpo.
Dizer que ama e ser amado. Se eu sou invisível, como vou ser amad@?
Homens negros se transformaram em reprodutores apenas. O estereótipo de “bom de cama”...Quem é “bom de cama” não tem tempo de pôr camisinha...O câncer de próstata tem aumentado entre os homens negros. Há uma banalização das DSTs. A HPV ou antiga crista de galo, pode se transformar em câncer de colo uterino, algumas meninas pegam com 12, 13 anos aos 25 estão com câncer e morrem com 35 anos.
Mas a saúde é possível nesses espaços potenciais de vida, como as comunidades tradicionais de matriz africana.
Cultura e identidade refletem na saúde física.
Quando se está na universidade, lugar de pensamento branco. Como curar a guerra psicológica da solidão? De onde vem a dor? Como dividir essa dor, com quem? Se você não sabe nomear essa busca de tornar-se negro, pode haver a loucura. Essa é uma parte de sua essência e você tem que ter com quem compartilhar.
“Voltei a viver quando me aproximei das questões raciais. Voltei a ter saúde” – Ana Koteban.
Quando você desagrega tem que recolher, se reaproximar de sua ancestralidade.
“Um convite cantado para todas as forças da natureza estarem em equilíbrio.”
Regina Goulart é Kota(cargo em sua nação do candomblé) Mulangi (a combatente).
Falar da saúde negra a partir de uma visão africana tem que começar pelo nome, ele tem uma funcionabilidade.
“A canção dos homens” – quando se nasce, você recebe seu nome e sua música, essa vai dizer por que e pra que veio. Quando a pessoa faz algo que tem haver com seu nome, no seu aniversário, em rituais em geral, todos cantam sua canção.
Quando deixamos cadeiras vazias, os inquisis estão presentes.
Falarei da saúde a partir não só do olhar da medicina, mas também de minhas vivências como Kota na religião Banto.
Capulanas e Umoja são espaços potenciais de vida, espaços onde as pessoas exercem a vida.
Médico é a pior pessoa para falar de saúde, pois é treinado para falar de doenças. Saúde é o equilíbrio entre corpo, meio, ancestralidade e o caminho.
Eu alimento o ancestral, meu caminho e a minha cabeça.
A dança alimenta a ancestralidade, quem vê, alimenta a cabeça, pro caminho eu não danço, paro, vislumbro e vou.
Do ponto de vista da medicina não tem raça. Um fóssil não tem como ver como ele viveu, que meio, se negro ou branco. Então temos que pensar em etnia. Algumas doenças são ligadas a origem, mas o racismo, o pensamento de raça superior e inferior, faz com a saúde da população negra esteja ligada as relações de poder.
As categorias: negros, asiático, indígena, foi criada a partir de um poder do branco de nominar o diferente. A pergunta sobre etnia é subtrair esse poder e dar direito a auto declaração.
Uma menina considerada branca, se auto declarou negra e todos ficaram em choque e dizendo que não e ela disse: “Permitam que eu declare o meu amor pela minha mãe.”
Qualquer equipamento de saúde tem medicina chinesa, hoje. É necessário sistematizar as danças negras considerando sua relação com saúde, elas podem diminuir diversas doenças de articulação e muscular. A maior tensão do corpo se acumula no trapézio (músculos dos ombros) e é uma das regiões mais trabalhadas nessas danças. Além promover a circulação de sangue, previne o alzheimer, pois oxigena o cérebro,evita osteoporose, cria identidade, traz equilíbrio.
O capitalismo engoliu a visão de mundo africana. A criança nasce a mãe acha que o neném é nervoso, mas ele tem medo quando tira a roupa, porque estava em lugar apertado e quente e aí é necessária a capulana, trazer o calor do corpo da mãe. É necessário trazer esses valores.
A hipertensão tem que ter um tratamento diferenciado na população negra, a medicação tem que ter um bloqueador de cálcio, pois assimilação do sódio é maior, por isso retemos muito líquido. Captopril não serve.
70% das mulheres negras tem parto vaginal, pois existe o estereótipo de que são mais parideiras e é uma grande mentira, pois são as que tem menor passagem na bacia e adequação ao parto vaginal.
A questão da saúde negra ainda está muito ligada às questões biológicas, mas devemos pensar em outras relações.
Uma criança falciforme, desde 2001, é identificada no exame do pezinho, isso diminui a mortalidade infantil.
O mioma quando detectado nas mulheres negras o procedimento é de arrancar o útero inteiro e na mulher branca só o tumor é retirado.
O povo negro africano não tem hipertensão. Na diáspora forçada era dado sal para reter líquido e os genes são repassados. Os africanos que vivem em meios urbanos ,hoje, têm hipertensão.
O segundo fator de morte da população negra é a violência. As cotas é uma política de enfrentamento da violência, os negros universitários morrem menos. A luta anti manicomial, pois 60% são negros.
“Tornar-se Negro” é um livro de Neuza Santos que fala da cicatriz de ter um corpo não amado.
A questão da saúde mental é muito importante. As mulheres negras têm resiliência, mas é necessário demonstrar a dor. Tá rindo Por quê? Quanto isso gera dor? Não tem como ser forte sempre.
A droga aumenta o consumo pelo nosso povo, pois é uma fuga de estar e ser o que é. A obesidade é gerada pelo exagero no prazer de comer.
Terapia comunitária é nada mais que cantar sua cantiga. Nós cantamos o que somos, a visão de mundo africano saúda o corpo.
Dizer que ama e ser amado. Se eu sou invisível, como vou ser amad@?
Homens negros se transformaram em reprodutores apenas. O estereótipo de “bom de cama”...Quem é “bom de cama” não tem tempo de pôr camisinha...O câncer de próstata tem aumentado entre os homens negros. Há uma banalização das DSTs. A HPV ou antiga crista de galo, pode se transformar em câncer de colo uterino, algumas meninas pegam com 12, 13 anos aos 25 estão com câncer e morrem com 35 anos.
Mas a saúde é possível nesses espaços potenciais de vida, como as comunidades tradicionais de matriz africana.
Cultura e identidade refletem na saúde física.
Quando se está na universidade, lugar de pensamento branco. Como curar a guerra psicológica da solidão? De onde vem a dor? Como dividir essa dor, com quem? Se você não sabe nomear essa busca de tornar-se negro, pode haver a loucura. Essa é uma parte de sua essência e você tem que ter com quem compartilhar.
“Voltei a viver quando me aproximei das questões raciais. Voltei a ter saúde” – Ana Koteban.
Quando você desagrega tem que recolher, se reaproximar de sua ancestralidade.
ONNIM - Prof. Cida Bento - Psicologia social do racismo anti negro - 19/05/2011
Branquitude X Negritude
O que é identidade?
Identidade é sua personalidade.
1- Cruzamento – Nós e o que vem de fora, você traz algo dos seus antepassados, a marca física (fenótipos) e psíquica. Iluminar suas memórias é ser você.
2- Separação – a criança se torna cada vez ela, quando ela se separa da mãe, até os dois anos é como se fosse uma parte da mãe, então é preciso separar para você ser uma coisa inteira.
3- Persistência e Mutação – Ontem e hoje eu sou a mesma coisa, mesmo estando em lugares e situações diferentes.
4- Identificar e constituir o EU – pequena memória de quem eu sou, o que faço, quais meus papéis na sociedade.
5- Identidade, Narcisismo e projeção – se aproximar do que é igual a você também é uma morte, pois mergulha e morre afogado. Reconhecer o outro ,como outro, é um processo doloroso. “Não temos que procurar a nossa metade da laranja, temos que ser uma laranja e encontrar outra inteira.”
6- Identidade e corpo – A regra do racismo é a negação do corpo negro. O corpo é uma imagem fundamental para a construção da identidade negra. Como fazer uma criança desde sempre se ver como uma coisa positiva? Ela ser alguma coisa que as pessoas gostam. A sociedade tem que oferecer diversos modelos para que todas as crianças possam se ver de maneira positiva.
Você passa a vida escolar estudando sobre Europa e EUA e pouco sabe sobre África, isso produz uma lacuna. Com o seu povo positivado é possível trazer uma identidade de um corpo que tenha sensações de prazer. Ajuda trazer memórias positivas, resignificar.
Separados mais iguais.
Identidade Negra
Pesquisa baseada na vida de Malcom X. Separada em 5 estágios.
1 – Preencontro – absorve os valores brancos, internaliza estereótipos negros, busca se afastar de outros negros, a questão racial não tem nada haver com sua vida.
2- Encontro – Vive uma situação de discriminação e constata que ele não pode ser branco, então se aproxima de um grupo que discuta sobre a questão racial.
3- Imersão/Emersão – Tudo que é bom é preto, quer denegrir (tornar negro) as pessoas brancas, se aproxima de coisas valiosas para a negritude. Busca sua própria história, outro contato com você mesmo. Vem a raiva.
4 – Internalização – Passa da fase de dizer quem é mais sofrido, mais preto e começa a ter uma atitude expansiva com negros, se relaciona com brancos que o respeite e se aproxima de outros grupos discriminados.
A identidade é uma espiral, vai e volta, passa pelos mesmos lugares de formas diferentes.
Do mesmo jeito que as loiras são vendidas como modelo de beleza, o jovem negro é vendido como modelo de sexualidade.
Como usar essa força que a gente vai ganhando com a construção da identidade negra? Como sair do discurso e levar pra vida? Como criar formas de enfrentar uma sociedade que tem posta o que é superior?
Clóvis Moura diz que esse tipo de sucesso que foi construído pelos brancos, pode não ser o que eu queira. Temos que pensar: O que te faz feliz?
Diferente dos EUA, os negros no Brasil dão indícios de que se queira uma nova sociedade e não um mundo branco pintado de preto, o conceito de sucesso se tivesse feito pelo nosso povo poderia ser muito diferente.
Brancos têm uma sociedade tecnológica e industrializada, mas os negros teriam tido mais cuidado com as pessoas. (Steve Biko).
Quando a cultura européia se sobrepõe a cultura negra e indígena, só aparece a pior parte das culturas: o negro como escravo e o branco opressor.
Capitalismo é uma expressão da masculinidade branca.
Branquitude pode se assemelhar a negritude, mas o branco nunca vai pensar o que é ser branco. Já o negro se pergunta quem eu sou? Quando fiz essa pergunta em uma dinâmica: O que é ser branco? Responderam: Ser branco é ser como qualquer pessoa.
Uma criança nasce marcada pelas heranças de seus familiares.
Cultura não pode estar dissociada de política. Arte Negra está no cotidiano das casas, das pessoas. Isso é um movimento revolucionário: fazer o que faz bem pra mim. Um pouco é brigar com a sociedade, um pouco é brigar com nós.
“ A gente tem que matar o branco que está dentro de nós” . – Luiza Bairros.
O povo Europeu é particularmente temeroso ao diferente, por isso ele destrói. Caça as mulheres, as bruxas, os demônios, negros, etc.
Um branco ao encontrar com um negro na rua escura, ele teme, pois sempre roubou o povo negro, sabe que o negro terá motivos para se vingar.
No ataque do PCC, a polícia estava apavorada, quem ela atacou? Negros, quem “têm” motivos para revoltar-se.
Os policiais matam jovens negros por eles terem a representação de poder sexual, ele é aquilo que os homens poderosos não são. E a corporação tem o pensamento branco, mesmo que seja um indivíduo negro, ele estará regido pelo aquele pensamento.
O homem branco tem suas marcas também.
Essas são algumas coisas que nos fazem vitimas da violência.
Como podemos não se esquecer das forças acumuladas que temos?
O que é identidade?
Identidade é sua personalidade.
1- Cruzamento – Nós e o que vem de fora, você traz algo dos seus antepassados, a marca física (fenótipos) e psíquica. Iluminar suas memórias é ser você.
2- Separação – a criança se torna cada vez ela, quando ela se separa da mãe, até os dois anos é como se fosse uma parte da mãe, então é preciso separar para você ser uma coisa inteira.
3- Persistência e Mutação – Ontem e hoje eu sou a mesma coisa, mesmo estando em lugares e situações diferentes.
4- Identificar e constituir o EU – pequena memória de quem eu sou, o que faço, quais meus papéis na sociedade.
5- Identidade, Narcisismo e projeção – se aproximar do que é igual a você também é uma morte, pois mergulha e morre afogado. Reconhecer o outro ,como outro, é um processo doloroso. “Não temos que procurar a nossa metade da laranja, temos que ser uma laranja e encontrar outra inteira.”
6- Identidade e corpo – A regra do racismo é a negação do corpo negro. O corpo é uma imagem fundamental para a construção da identidade negra. Como fazer uma criança desde sempre se ver como uma coisa positiva? Ela ser alguma coisa que as pessoas gostam. A sociedade tem que oferecer diversos modelos para que todas as crianças possam se ver de maneira positiva.
Você passa a vida escolar estudando sobre Europa e EUA e pouco sabe sobre África, isso produz uma lacuna. Com o seu povo positivado é possível trazer uma identidade de um corpo que tenha sensações de prazer. Ajuda trazer memórias positivas, resignificar.
Separados mais iguais.
Identidade Negra
Pesquisa baseada na vida de Malcom X. Separada em 5 estágios.
1 – Preencontro – absorve os valores brancos, internaliza estereótipos negros, busca se afastar de outros negros, a questão racial não tem nada haver com sua vida.
2- Encontro – Vive uma situação de discriminação e constata que ele não pode ser branco, então se aproxima de um grupo que discuta sobre a questão racial.
3- Imersão/Emersão – Tudo que é bom é preto, quer denegrir (tornar negro) as pessoas brancas, se aproxima de coisas valiosas para a negritude. Busca sua própria história, outro contato com você mesmo. Vem a raiva.
4 – Internalização – Passa da fase de dizer quem é mais sofrido, mais preto e começa a ter uma atitude expansiva com negros, se relaciona com brancos que o respeite e se aproxima de outros grupos discriminados.
A identidade é uma espiral, vai e volta, passa pelos mesmos lugares de formas diferentes.
Do mesmo jeito que as loiras são vendidas como modelo de beleza, o jovem negro é vendido como modelo de sexualidade.
Como usar essa força que a gente vai ganhando com a construção da identidade negra? Como sair do discurso e levar pra vida? Como criar formas de enfrentar uma sociedade que tem posta o que é superior?
Clóvis Moura diz que esse tipo de sucesso que foi construído pelos brancos, pode não ser o que eu queira. Temos que pensar: O que te faz feliz?
Diferente dos EUA, os negros no Brasil dão indícios de que se queira uma nova sociedade e não um mundo branco pintado de preto, o conceito de sucesso se tivesse feito pelo nosso povo poderia ser muito diferente.
Brancos têm uma sociedade tecnológica e industrializada, mas os negros teriam tido mais cuidado com as pessoas. (Steve Biko).
Quando a cultura européia se sobrepõe a cultura negra e indígena, só aparece a pior parte das culturas: o negro como escravo e o branco opressor.
Capitalismo é uma expressão da masculinidade branca.
Branquitude pode se assemelhar a negritude, mas o branco nunca vai pensar o que é ser branco. Já o negro se pergunta quem eu sou? Quando fiz essa pergunta em uma dinâmica: O que é ser branco? Responderam: Ser branco é ser como qualquer pessoa.
Uma criança nasce marcada pelas heranças de seus familiares.
Cultura não pode estar dissociada de política. Arte Negra está no cotidiano das casas, das pessoas. Isso é um movimento revolucionário: fazer o que faz bem pra mim. Um pouco é brigar com a sociedade, um pouco é brigar com nós.
“ A gente tem que matar o branco que está dentro de nós” . – Luiza Bairros.
O povo Europeu é particularmente temeroso ao diferente, por isso ele destrói. Caça as mulheres, as bruxas, os demônios, negros, etc.
Um branco ao encontrar com um negro na rua escura, ele teme, pois sempre roubou o povo negro, sabe que o negro terá motivos para se vingar.
No ataque do PCC, a polícia estava apavorada, quem ela atacou? Negros, quem “têm” motivos para revoltar-se.
Os policiais matam jovens negros por eles terem a representação de poder sexual, ele é aquilo que os homens poderosos não são. E a corporação tem o pensamento branco, mesmo que seja um indivíduo negro, ele estará regido pelo aquele pensamento.
O homem branco tem suas marcas também.
Essas são algumas coisas que nos fazem vitimas da violência.
Como podemos não se esquecer das forças acumuladas que temos?
terça-feira, 24 de maio de 2011
ONNIM - Prof. Viviane Lima - Corporalidades negras na festa do Boi –18/05/2011
A relação trabalho e festa, homem e natureza, chegou na relação do homem com o boi. O negro aqui escravizado e o boi domesticado.
Amadu Amaral foi um pesquisador que tentou saber quem influenciou quem e depois não teve menor sentido, pois o boi é um animal que veio pro Brasil no processo de colonização.
A relação do homem africano com a natureza é de uma poesia e complexidade que não teremos entendimento
Na tradição africana não se separa o homem da natureza. São os 20 elementos que formam o ser humano. O criador é a junção de todos esses elementos da natureza e está presente no homem. A idéia de dissociação da natureza é ocidental. Esses 20 elementos vibram no ser humano até que saia a palavra, assim sendo o indivíduo é sua própria palavra. A mentira então é um desvinculamento de você com a natureza, com o criador, com o sagrado e por isso não é necessário escrever, pois a palavra tem poder em si.
O homem só sabe que ele é homem, porque está em contato com a natureza, em relação, e não superior e sim um de seus elementos que vai ser responsável de cuidar de outros elementos.
Num determinado momento com o contato com outras culturas do oriente, começa a aparecer na cultura africana, técnicas de agricultura, o aprendizado se dá a partir da observação de pássaros para saber como semear, do tempo do trabalho com as formigas, enfim respeitar essa generosidade da natureza.
Há contos que não são infantis, mas contados na infância para saber como aquela como aquela comunidade aprendeu a se relacionar com a natureza. Cada comunidade tem um animal Tóten e ele será base para as relações.
O boi em todo mundo se transformou em animal símbolo, mas diferenciado de cultura a cultura, mas geralmente está ligado a poder, pela sua estrutura física e que tudo nele se aproveita, até o berro.
No sudoeste de Angola, os Nanhecas, têm um culto ao boi, essa seria uma possível origem da festa do boi.
Aqui no Brasil se diz que tem origem portuguesa, mas não existe nenhuma comunidade branca que tem festa de boi.
O boi é um animal caro, vem originalmente de Cabo Verde no séc. XVI e vieram pra cá nos mesmos porões que os africanos escravizados, então os dois tem o mesmo patamar na sociedade brasileira. Na cultura africana eram iguais, mas em outras instâncias.
O boi é muito usado para sacrifícios, o mais bonito, mais gordo, era esse que era oferecido ao Soba seu sangue.
Para os Bijagós ( povo africano que habita um arquipélago de Guiné-Bissau), o boi é o animal máximo, o rei é enterrado com a pele, patas e cabeça do boi. Confeccionam máscaras de boi e se transformam. A máscara é um elemento fundamental para ritos de passagens nas comunidades tradicionais africanas, pois não é utilizada para esconder e sim para revelar os ancestrais, por isso cobre todo o corpo e sim o ancestral abençoa.
A relação com o animal muda com a chegada da escravidão, pois ela põe o boi em um lugar utilitário e o homem negro é comparado sendo chamado de “gado humano”, os dois tem o mesmo preço. O homem africano deixa de ter a natureza como aliada e passa a viver a mesma situação de opressão.
A queimadura que é feita no boi, também será usada no homem, as colheras, a vedação do rosto. A domesticação passa a ser referência para a escravidão.
Homem e animal: o escravo está comparado ao animal domesticado e o senhor ao animal de movimento.
RELAÇÕES ANIMAL NOMES
Escravo Boi Mimoso
Senhor Cavalo Veloz
Na relação com as mulheres negras, é em fotografias por exemplo: a mulher passa do exótico para o erótico e na literatura aparece a questão muito presente do cheiro e de sua animalização.
A relação do homem negro com a natureza é resgatada no desenvolvimento da manifestação do Boi Bumba. Mário de Andrade em seu registro usa o boi como elemento de unificação do Brasil, mas não cita o negro como produto desse acontecimento.
No Mali, os Sobobós têm máscaras de Antílopes muito parecidas com o Boi Bumba.
Na Nigéria, a cultura Ioruba, o artista só pode ver se a máscara está boa, no momento da dança, pois é quando ela se torna viva. Essa relação com a ancestralidade é a máscara.
Máscaras são representações artísticas, mas tem que ser um artista que tenha ancestralidade. Então a máscara seria uma dupla habitação: ancestral e descendente.
Bumba meu Boi, Boi Bumba, Boi de Bumba é uma auto tradição da sociedade de escravidão, pois há uma pessoa vestida de boi, o Mateus que é um vaqueiro, a Catirina que é uma mulher grávida com desejo de comer a língua do Boi, quando tira a língua ela perde o poder da fala. A redenção do homem negro, a ressurreição do boi é quando ele volta a dançar.
Homens negros se matavam para virar ancestrais e ajudar os outros escravizados. Na África o indivíduo vivo se encontra com o ancestral e a partir do cristianismo ele tem que morrer para encontrar com o espiritual.
Na vaquejada o mestiço caça o boi que representa o preto escravizado.
O boi no Auto do boi é o melhor boi do senhor. E pode se ver a importância da oralidade, os mascarados não falam, como os orixás no Brasil, só a corporalidade é necessária para que haja a comunicação. A fala é o vínculo visceral com o ancestral, ele não fala, mas lhe é permitido falar por ele.
A fala é importante, pois o escravizado não podia falar seu dialeto, tinham que falar português. A língua foi cortada e ele ressuscita através da dança. O corpo fala, o tambor fala, o canto...Mas a escutar é importante.
Amadu Amaral foi um pesquisador que tentou saber quem influenciou quem e depois não teve menor sentido, pois o boi é um animal que veio pro Brasil no processo de colonização.
A relação do homem africano com a natureza é de uma poesia e complexidade que não teremos entendimento
Na tradição africana não se separa o homem da natureza. São os 20 elementos que formam o ser humano. O criador é a junção de todos esses elementos da natureza e está presente no homem. A idéia de dissociação da natureza é ocidental. Esses 20 elementos vibram no ser humano até que saia a palavra, assim sendo o indivíduo é sua própria palavra. A mentira então é um desvinculamento de você com a natureza, com o criador, com o sagrado e por isso não é necessário escrever, pois a palavra tem poder em si.
O homem só sabe que ele é homem, porque está em contato com a natureza, em relação, e não superior e sim um de seus elementos que vai ser responsável de cuidar de outros elementos.
Num determinado momento com o contato com outras culturas do oriente, começa a aparecer na cultura africana, técnicas de agricultura, o aprendizado se dá a partir da observação de pássaros para saber como semear, do tempo do trabalho com as formigas, enfim respeitar essa generosidade da natureza.
Há contos que não são infantis, mas contados na infância para saber como aquela como aquela comunidade aprendeu a se relacionar com a natureza. Cada comunidade tem um animal Tóten e ele será base para as relações.
O boi em todo mundo se transformou em animal símbolo, mas diferenciado de cultura a cultura, mas geralmente está ligado a poder, pela sua estrutura física e que tudo nele se aproveita, até o berro.
No sudoeste de Angola, os Nanhecas, têm um culto ao boi, essa seria uma possível origem da festa do boi.
Aqui no Brasil se diz que tem origem portuguesa, mas não existe nenhuma comunidade branca que tem festa de boi.
O boi é um animal caro, vem originalmente de Cabo Verde no séc. XVI e vieram pra cá nos mesmos porões que os africanos escravizados, então os dois tem o mesmo patamar na sociedade brasileira. Na cultura africana eram iguais, mas em outras instâncias.
O boi é muito usado para sacrifícios, o mais bonito, mais gordo, era esse que era oferecido ao Soba seu sangue.
Para os Bijagós ( povo africano que habita um arquipélago de Guiné-Bissau), o boi é o animal máximo, o rei é enterrado com a pele, patas e cabeça do boi. Confeccionam máscaras de boi e se transformam. A máscara é um elemento fundamental para ritos de passagens nas comunidades tradicionais africanas, pois não é utilizada para esconder e sim para revelar os ancestrais, por isso cobre todo o corpo e sim o ancestral abençoa.
A relação com o animal muda com a chegada da escravidão, pois ela põe o boi em um lugar utilitário e o homem negro é comparado sendo chamado de “gado humano”, os dois tem o mesmo preço. O homem africano deixa de ter a natureza como aliada e passa a viver a mesma situação de opressão.
A queimadura que é feita no boi, também será usada no homem, as colheras, a vedação do rosto. A domesticação passa a ser referência para a escravidão.
Homem e animal: o escravo está comparado ao animal domesticado e o senhor ao animal de movimento.
RELAÇÕES ANIMAL NOMES
Escravo Boi Mimoso
Senhor Cavalo Veloz
Na relação com as mulheres negras, é em fotografias por exemplo: a mulher passa do exótico para o erótico e na literatura aparece a questão muito presente do cheiro e de sua animalização.
A relação do homem negro com a natureza é resgatada no desenvolvimento da manifestação do Boi Bumba. Mário de Andrade em seu registro usa o boi como elemento de unificação do Brasil, mas não cita o negro como produto desse acontecimento.
No Mali, os Sobobós têm máscaras de Antílopes muito parecidas com o Boi Bumba.
Na Nigéria, a cultura Ioruba, o artista só pode ver se a máscara está boa, no momento da dança, pois é quando ela se torna viva. Essa relação com a ancestralidade é a máscara.
Máscaras são representações artísticas, mas tem que ser um artista que tenha ancestralidade. Então a máscara seria uma dupla habitação: ancestral e descendente.
Bumba meu Boi, Boi Bumba, Boi de Bumba é uma auto tradição da sociedade de escravidão, pois há uma pessoa vestida de boi, o Mateus que é um vaqueiro, a Catirina que é uma mulher grávida com desejo de comer a língua do Boi, quando tira a língua ela perde o poder da fala. A redenção do homem negro, a ressurreição do boi é quando ele volta a dançar.
Homens negros se matavam para virar ancestrais e ajudar os outros escravizados. Na África o indivíduo vivo se encontra com o ancestral e a partir do cristianismo ele tem que morrer para encontrar com o espiritual.
Na vaquejada o mestiço caça o boi que representa o preto escravizado.
O boi no Auto do boi é o melhor boi do senhor. E pode se ver a importância da oralidade, os mascarados não falam, como os orixás no Brasil, só a corporalidade é necessária para que haja a comunicação. A fala é o vínculo visceral com o ancestral, ele não fala, mas lhe é permitido falar por ele.
A fala é importante, pois o escravizado não podia falar seu dialeto, tinham que falar português. A língua foi cortada e ele ressuscita através da dança. O corpo fala, o tambor fala, o canto...Mas a escutar é importante.
ONNIM -Prof. Salloma Salomão - Congos e Moçambiques: Corpos Negros em Performances - 17/05/2011
A Corporalidade negra.
Há uma dimensão nas Américas de culturas negras. As congadas é uma das dimensões dessa diversidade, aparecem em Brasil, EUA e Caribe.
Congo é uma manifestação de música, dança, teatro e ritual, ou seja uma dramaticidade em reverência aos antepassados mortos e reis de Congo.
Em Cuba aparece como Cabiudos (brincantes oriundos do Congo), no Haiti como Janconu.
Havia uma unidade cultural muito grande nos povos que viviam na África Central : Umbundo, Quibumbo, Muila.
E como essas culturas se relacionaram com outras culturas tão distintas e produziram algo similar? No caso o Congo.
Todos produziam algo que fazia referência ao Império do Congo, sendo a Congada parte dessa memória, a coroação de um rei e uma rainha: Nzinga Ambanti e Conde de Soio ( em algumas cantigas aparece como Conde de Sonho) e que faz referência a uma das partes do reino de Congo.
O corpo quando dança ele rememora, por isso cantigas e nomes são lembrados e presentes até hoje. Mas não é algo morto e estático há uma reconfiguração de memórias que vão gerando outras identidades.
Por que as manifestações do sudeste são menos lembradas que as do nordeste?
Em um determinado período alguns militantes, chefes de culto religioso foram muito presentes na construção da relação Brasil África e assim criou-se o que chamamos de Nagocentrismo, ou seja, só a cultura de Benin e Nigéria teria se mantido intacta aqui no Brasil, Manoel Quirino foi responsável pelo mapeamento de terreiros de candomblé da Bahia, anotando sobre culinária, vestimentas, dando uma visibilidade maior para essa especificidade cultural.
Prestitos (Zulu) e Menelick (antigo rei da Etiópia), eram uma guarda de Congo que antecedem os Afoxés, não era ligado ao carnaval. Antes do séc XX existia congadas de norte a sul do Brasil.
No Moçambique as vestimentas são saias (para homens), uma origem são os cristãos da Etiópia e outra é que os soberanos da África central usavam essa vestimenta.
Como o cristianismo é assimilado pelos africanos?
Pintar a Nossa Senhora, mãe de Jesus, de preto é uma das formas, pois se ela estiver branca não irá servir-los.
Os Europeus entram na África central para realizar comércio, no séc. XV o soberano do Congo é convidado a ir a Portugal, mas não vai e manda dois filhos, um morre por lá e outro volta e prega o cristianismo.
Mas o cristianismo já existia no séc. I na Etiópia, pois sua posição geográfica é próxima da Palestina, é uma outra forma de cristianismo, que não chega via Europa. A religiosidade européia é dogmática, um Deus único, sendo essa a evolução e a civilidade religiosa, o que desqualifica todas as práticas que não são cristãs. Na religiosidade os deuses tem relação com sua funcionabilidade.
Nzambi é reverenciado nas Congadas, é o criador para vários povos de cultura Bantu.
As congadas eram muito masculinas, mas nos últimos 15 anos há a presença de mulheres.
Em dezembro congadeir@s que são trabalhadores rurais, deixam de trabalhar e saem em grupos pequenos para arrecadar dinheiro.
O rei e a rainha pessoas que tiveram graças alcançadas de promessas que foram feitas para São Benedito, Nossa Senhora do Rosário e Santa Efigênia e houver mais de um aquele ano há uma eleição.
No Espirito Santo a Congada aparece como Ticumbi, Cicumbi em Santa Catarina em um bairro de comunidade negra que chama São Francisco do Sul, em Rio Grande do Norte de Congo de Saiote.
Todo ano vai ser feito o mesmo ritual, mas todos estão lá pra ver. Sempre há elementos novos, é uma reapresentação do ritual, há criações de novas composições e músicas. Começam a aparecer alfaias, instrumentos metálicos. Antes usava-se latões, barril, mas é preciso lidar com os acontecimentos, é algo vivo e mutável.
Em cidades onde a presença é mal vista, a Congada se apresenta como a presença negra em performance, ela se revela.
Na África o soberano era apresentado por uma banda musical, prática presente na Congada.
Já havia urbanicidade no continente africano.
Há 4 memórias do Congo:
1- Organização Social
2-Lutas Imperiais ( Rainha Nzimga/Conde de Soio)
3- Travessia do Atlântico
4- Cativeiro
Kalunga (aparece como boneca no Maracatu) é um lugar para onde iam os mortos, para água, onde os espíritos vão ficar. Por isso Nossa Senhora é encontrada no rio ou na grota de água.
As primeiras fotografias de Congo mostram os tambores no chão que é uma posição recorrente na África Central, os músicos estão de saia igual ao rei. Os comerciantes que tinham usar saias para serem reconhecidos como homens em território angolano.
A representação de reis negros no exílio são passagens de rituais reais a rituais simbólicos, de memória e identidade coletiva. No momento da representação é quando o negro tem visibilidade, fala sua língua e expressa sua corporalidade.
As irmandades negras eram espaços de negociação com o mundo branco. Mas faziam planejamentos e financiamentos de fugas e compra de alforrias. Os Congos são ligados as irmandades, financiavam instrumentos, alimentação e tecidos.
A polifonia africana está presente na Congada, no canto, na construção rítmica. No ocidente a repetição é monotonia, mas para os africanos é circularidade. Aquele que fixasse uma altura de uma nota, por exemplo, jamais esqueceria e a repetição traria então autonomia na hora de compor e grupo, pois a música só acontece de forma coletiva, não há produtores, emissores, receptores, todos estavam envolvid@s.
O fato da Congada ser um batalhão tem haver com as guardas da rainha Nzimga, os Jagas, que aqui virou jagunço.
A Congada é uma das reconstruções de uma existência, pois os escravizados africanos saíram de seus lugares e não iriam poder voltar. Isso seria uma saúde cultural, reconstruir a humanidade de uma parcela da humanidade, exercer sua ancestralidade, comunicar uma estética que não é da norma.
Nos séc. XIX para o XX homens negros que praticavam culturas negras eram considerados loucos e em nome da saúde social (higiene social) eram levados para o manicômio.
Nem tudo é resistência e nem tudo é intercâmbio. Cultura é um indicador de saúde.
Há uma dimensão nas Américas de culturas negras. As congadas é uma das dimensões dessa diversidade, aparecem em Brasil, EUA e Caribe.
Congo é uma manifestação de música, dança, teatro e ritual, ou seja uma dramaticidade em reverência aos antepassados mortos e reis de Congo.
Em Cuba aparece como Cabiudos (brincantes oriundos do Congo), no Haiti como Janconu.
Havia uma unidade cultural muito grande nos povos que viviam na África Central : Umbundo, Quibumbo, Muila.
E como essas culturas se relacionaram com outras culturas tão distintas e produziram algo similar? No caso o Congo.
Todos produziam algo que fazia referência ao Império do Congo, sendo a Congada parte dessa memória, a coroação de um rei e uma rainha: Nzinga Ambanti e Conde de Soio ( em algumas cantigas aparece como Conde de Sonho) e que faz referência a uma das partes do reino de Congo.
O corpo quando dança ele rememora, por isso cantigas e nomes são lembrados e presentes até hoje. Mas não é algo morto e estático há uma reconfiguração de memórias que vão gerando outras identidades.
Por que as manifestações do sudeste são menos lembradas que as do nordeste?
Em um determinado período alguns militantes, chefes de culto religioso foram muito presentes na construção da relação Brasil África e assim criou-se o que chamamos de Nagocentrismo, ou seja, só a cultura de Benin e Nigéria teria se mantido intacta aqui no Brasil, Manoel Quirino foi responsável pelo mapeamento de terreiros de candomblé da Bahia, anotando sobre culinária, vestimentas, dando uma visibilidade maior para essa especificidade cultural.
Prestitos (Zulu) e Menelick (antigo rei da Etiópia), eram uma guarda de Congo que antecedem os Afoxés, não era ligado ao carnaval. Antes do séc XX existia congadas de norte a sul do Brasil.
No Moçambique as vestimentas são saias (para homens), uma origem são os cristãos da Etiópia e outra é que os soberanos da África central usavam essa vestimenta.
Como o cristianismo é assimilado pelos africanos?
Pintar a Nossa Senhora, mãe de Jesus, de preto é uma das formas, pois se ela estiver branca não irá servir-los.
Os Europeus entram na África central para realizar comércio, no séc. XV o soberano do Congo é convidado a ir a Portugal, mas não vai e manda dois filhos, um morre por lá e outro volta e prega o cristianismo.
Mas o cristianismo já existia no séc. I na Etiópia, pois sua posição geográfica é próxima da Palestina, é uma outra forma de cristianismo, que não chega via Europa. A religiosidade européia é dogmática, um Deus único, sendo essa a evolução e a civilidade religiosa, o que desqualifica todas as práticas que não são cristãs. Na religiosidade os deuses tem relação com sua funcionabilidade.
Nzambi é reverenciado nas Congadas, é o criador para vários povos de cultura Bantu.
As congadas eram muito masculinas, mas nos últimos 15 anos há a presença de mulheres.
Em dezembro congadeir@s que são trabalhadores rurais, deixam de trabalhar e saem em grupos pequenos para arrecadar dinheiro.
O rei e a rainha pessoas que tiveram graças alcançadas de promessas que foram feitas para São Benedito, Nossa Senhora do Rosário e Santa Efigênia e houver mais de um aquele ano há uma eleição.
No Espirito Santo a Congada aparece como Ticumbi, Cicumbi em Santa Catarina em um bairro de comunidade negra que chama São Francisco do Sul, em Rio Grande do Norte de Congo de Saiote.
Todo ano vai ser feito o mesmo ritual, mas todos estão lá pra ver. Sempre há elementos novos, é uma reapresentação do ritual, há criações de novas composições e músicas. Começam a aparecer alfaias, instrumentos metálicos. Antes usava-se latões, barril, mas é preciso lidar com os acontecimentos, é algo vivo e mutável.
Em cidades onde a presença é mal vista, a Congada se apresenta como a presença negra em performance, ela se revela.
Na África o soberano era apresentado por uma banda musical, prática presente na Congada.
Já havia urbanicidade no continente africano.
Há 4 memórias do Congo:
1- Organização Social
2-Lutas Imperiais ( Rainha Nzimga/Conde de Soio)
3- Travessia do Atlântico
4- Cativeiro
Kalunga (aparece como boneca no Maracatu) é um lugar para onde iam os mortos, para água, onde os espíritos vão ficar. Por isso Nossa Senhora é encontrada no rio ou na grota de água.
As primeiras fotografias de Congo mostram os tambores no chão que é uma posição recorrente na África Central, os músicos estão de saia igual ao rei. Os comerciantes que tinham usar saias para serem reconhecidos como homens em território angolano.
A representação de reis negros no exílio são passagens de rituais reais a rituais simbólicos, de memória e identidade coletiva. No momento da representação é quando o negro tem visibilidade, fala sua língua e expressa sua corporalidade.
As irmandades negras eram espaços de negociação com o mundo branco. Mas faziam planejamentos e financiamentos de fugas e compra de alforrias. Os Congos são ligados as irmandades, financiavam instrumentos, alimentação e tecidos.
A polifonia africana está presente na Congada, no canto, na construção rítmica. No ocidente a repetição é monotonia, mas para os africanos é circularidade. Aquele que fixasse uma altura de uma nota, por exemplo, jamais esqueceria e a repetição traria então autonomia na hora de compor e grupo, pois a música só acontece de forma coletiva, não há produtores, emissores, receptores, todos estavam envolvid@s.
O fato da Congada ser um batalhão tem haver com as guardas da rainha Nzimga, os Jagas, que aqui virou jagunço.
A Congada é uma das reconstruções de uma existência, pois os escravizados africanos saíram de seus lugares e não iriam poder voltar. Isso seria uma saúde cultural, reconstruir a humanidade de uma parcela da humanidade, exercer sua ancestralidade, comunicar uma estética que não é da norma.
Nos séc. XIX para o XX homens negros que praticavam culturas negras eram considerados loucos e em nome da saúde social (higiene social) eram levados para o manicômio.
Nem tudo é resistência e nem tudo é intercâmbio. Cultura é um indicador de saúde.
segunda-feira, 23 de maio de 2011
Capulanas em AFROBRASILIDADES EM CENA 28/05
REALIZAÇÃO
REVISTA O MENELICK 2ºATO - AFROBRASILIDADES & AFINS
www.omenelicksegundoato.blogspot.com
APOIO
CENTRO CULTURAL DA ESPANHA (CCE)
www.ccebrasil.org.br
INSTITUTO FEIRA PRETA
www.feirapreta.com.br
segunda-feira, 16 de maio de 2011
ONNIM- Prof. Marcos Ferreira - Espirito Sangoma - 16/05/2011
Iniciamos hoje nosso ONNIM II Ciclo de Palestras com o Prof. Marcos Ferreira, foi uma noite quente apesar da garoa e do frio. Aquecemos nossos corpos em todas suas dimensões, abaixo vai apenas um relato breve sobre a noite de hoje.
Espírito Sangoma
Uma comunidade matrial é aquela que tem elementos femininos, mas não está ligada a questão meramente de gênero, mas algo maior que é o principio feminino de acolher, abraçar e ajudar. Como a plantação que é o enterro (morte) da semente na terra, há a transformação/fecundação e o nascimento (nova planta).
A maternidade é relação espelhada da terra e a mulher.
Para o homem ancestral a menstruação é uma morte todo mês que traz o poder da vida. Então a mulher seria um ser muito forte, pois transita pela morte e dá a vida. Depois da criação do Estado, com suas leis escritas, o homem vai de frente com o poder natural feminino e cria separações e o modelo patriarcal.
Na cultura Yoruba existe uma escultura Mawa (segredos do ferro, masculino) e Lissa (rito de fertilidade, feminino) que seriam pré anúncios de Ogum e Oxum, que estão abraçados e representam essa unidade, onde um não se sobrepõe ao outro, suas forças são iguais importantes para construção da comunidade.
Existem muitas esculturas onde aparece o filho junto ao corpo da mãe, Capulanas, seriam como uma gestação fora do corpo.
No mundo Zulu, Sangoma tem três significados:
• As contas (colares): São usados pelas mulheres Masai e suas contas contam suas histórias, ou seja, pelos colares e enfeites de cabeça é possível saber se ela é casada, solteira, se está ou não disponível para relacionamento;
• O Canto ( música): sinalizam a função que a pessoa exerce na comunidade;
• O Santo (herança ancestral) : Curandeiros da comunidade, quem mantém o equilíbrio natural, espiritual e em sua maioria são mulheres. A pessoa é escolhida pelos ancestrais, começa com sonhos repetitivos e isso é o um dos chamados. Há uma música de iniciação que se chama Angnalana que significa : “ eu não consigo dormir” e a partir disso começa a aprender com outros Sangomas sobre a natureza e seus segredos.
Do ponto de vista ancestral não existe sociedade, é comunidade. O Sangoma só vai existir nesse contexto.
Quando alguém está doente o Sangoma começa o rito com um canto para entender o que está acontecendo e depois utiliza ervas e geralmente a dança, pois ela é entendida como cura e pode resolver muitos problemas.
Aqui no Brasil houve uma resignificação do Sangoma, que virou Cangoma na canção que Clementina de Jesus canta : “ Tava durumindo Cangoma me chamou/ Tava durumindo Cangoma me chamou/Disse: Levanta povo, cativeiro já acabou...”.E a figura das benzedeiras também representa essa ligação.
A pessoa é o entrecruzamento de dois planos, o espiritual (divino), ou seja, é parte do todo ou expressão do todo, o divino penetra o humano e o humano penetra o divino. A natureza é a comunhão divina. E o corpo mantém essa contração expansão o tempo inteiro.
O corpo possui cinco líquidos sagrados: a lágrima, a saliva, o suor, o sêmen e o fluxo menstrual. Como são sagrados só podemos oferecer para quem amamos.
A lágrima é o transbordamento, quando não se cabe mais, vaza. Lamber a lágrima de alguém é como trazer pra si aquela emoção. Em todas as comunidades o beijo é algo sagrado, pois compartilha a saliva. O suor umedece as almas. Na menarca (primeira menstruação) a menina não pode pisar o chão até que ela se regenere, há uma preocupação e o fluxo menstrual no decorrer da vida adulta, não será impeditivo para o amor. Na cultura ocidental a menstruação é mácula, sujeira, pecado. O sêmen é mais do que fecundação é aquilo que comunica, compartilha, não pela função reprodutora, mas a grande energia vital.
Se nossos líquidos são tão importantes e sagrados é necessário ter preocupação com o que se ingere. O respeito com teu corpo desperta o respeito com o corpo do outro, além da relação amorosa, é uma devoção, celebrar o outro, alguém presente, no tempo presente, que é um presente.
Ao visitar nossos porões encontramos nossa ancestralidade.
Ancestralidade é um traço de que sou herdeir@, que é constitutivo do meu processo identitário e que permanece para além da minha própria existência.
Acessar nossa ancestralidade é “Ser nós mesmos”.
Espírito Sangoma
Uma comunidade matrial é aquela que tem elementos femininos, mas não está ligada a questão meramente de gênero, mas algo maior que é o principio feminino de acolher, abraçar e ajudar. Como a plantação que é o enterro (morte) da semente na terra, há a transformação/fecundação e o nascimento (nova planta).
A maternidade é relação espelhada da terra e a mulher.
Para o homem ancestral a menstruação é uma morte todo mês que traz o poder da vida. Então a mulher seria um ser muito forte, pois transita pela morte e dá a vida. Depois da criação do Estado, com suas leis escritas, o homem vai de frente com o poder natural feminino e cria separações e o modelo patriarcal.
Na cultura Yoruba existe uma escultura Mawa (segredos do ferro, masculino) e Lissa (rito de fertilidade, feminino) que seriam pré anúncios de Ogum e Oxum, que estão abraçados e representam essa unidade, onde um não se sobrepõe ao outro, suas forças são iguais importantes para construção da comunidade.
Existem muitas esculturas onde aparece o filho junto ao corpo da mãe, Capulanas, seriam como uma gestação fora do corpo.
No mundo Zulu, Sangoma tem três significados:
• As contas (colares): São usados pelas mulheres Masai e suas contas contam suas histórias, ou seja, pelos colares e enfeites de cabeça é possível saber se ela é casada, solteira, se está ou não disponível para relacionamento;
• O Canto ( música): sinalizam a função que a pessoa exerce na comunidade;
• O Santo (herança ancestral) : Curandeiros da comunidade, quem mantém o equilíbrio natural, espiritual e em sua maioria são mulheres. A pessoa é escolhida pelos ancestrais, começa com sonhos repetitivos e isso é o um dos chamados. Há uma música de iniciação que se chama Angnalana que significa : “ eu não consigo dormir” e a partir disso começa a aprender com outros Sangomas sobre a natureza e seus segredos.
Do ponto de vista ancestral não existe sociedade, é comunidade. O Sangoma só vai existir nesse contexto.
Quando alguém está doente o Sangoma começa o rito com um canto para entender o que está acontecendo e depois utiliza ervas e geralmente a dança, pois ela é entendida como cura e pode resolver muitos problemas.
Aqui no Brasil houve uma resignificação do Sangoma, que virou Cangoma na canção que Clementina de Jesus canta : “ Tava durumindo Cangoma me chamou/ Tava durumindo Cangoma me chamou/Disse: Levanta povo, cativeiro já acabou...”.E a figura das benzedeiras também representa essa ligação.
A pessoa é o entrecruzamento de dois planos, o espiritual (divino), ou seja, é parte do todo ou expressão do todo, o divino penetra o humano e o humano penetra o divino. A natureza é a comunhão divina. E o corpo mantém essa contração expansão o tempo inteiro.
O corpo possui cinco líquidos sagrados: a lágrima, a saliva, o suor, o sêmen e o fluxo menstrual. Como são sagrados só podemos oferecer para quem amamos.
A lágrima é o transbordamento, quando não se cabe mais, vaza. Lamber a lágrima de alguém é como trazer pra si aquela emoção. Em todas as comunidades o beijo é algo sagrado, pois compartilha a saliva. O suor umedece as almas. Na menarca (primeira menstruação) a menina não pode pisar o chão até que ela se regenere, há uma preocupação e o fluxo menstrual no decorrer da vida adulta, não será impeditivo para o amor. Na cultura ocidental a menstruação é mácula, sujeira, pecado. O sêmen é mais do que fecundação é aquilo que comunica, compartilha, não pela função reprodutora, mas a grande energia vital.
Se nossos líquidos são tão importantes e sagrados é necessário ter preocupação com o que se ingere. O respeito com teu corpo desperta o respeito com o corpo do outro, além da relação amorosa, é uma devoção, celebrar o outro, alguém presente, no tempo presente, que é um presente.
Ao visitar nossos porões encontramos nossa ancestralidade.
Ancestralidade é um traço de que sou herdeir@, que é constitutivo do meu processo identitário e que permanece para além da minha própria existência.
Acessar nossa ancestralidade é “Ser nós mesmos”.
terça-feira, 10 de maio de 2011
Agenda Projeto Pé no Quintal - Maio
Confiram a programação e venham somar nesse momento de felicidade.
Axé.
15 de maio - Quintal da Casa de cultura do M´Boi mirim - Av. Inácio Dias da Silva, s/n º - Piraporinha as 19hs
22 de maio - Quintal da Bergmam - Rua Berta Morena, Cidade Ademar 22d as 19hs
29 de maio - Quintal da Sociedade Amigos do Bairro - Rua Denis Furtel,126 - Jardim das Laranjeiras as 19hs
Axé.
15 de maio - Quintal da Casa de cultura do M´Boi mirim - Av. Inácio Dias da Silva, s/n º - Piraporinha as 19hs
22 de maio - Quintal da Bergmam - Rua Berta Morena, Cidade Ademar 22d as 19hs
29 de maio - Quintal da Sociedade Amigos do Bairro - Rua Denis Furtel,126 - Jardim das Laranjeiras as 19hs