A Corporalidade negra.
Há uma dimensão nas Américas de culturas negras. As congadas é uma das dimensões dessa diversidade, aparecem em Brasil, EUA e Caribe.
Congo é uma manifestação de música, dança, teatro e ritual, ou seja uma dramaticidade em reverência aos antepassados mortos e reis de Congo.
Em Cuba aparece como Cabiudos (brincantes oriundos do Congo), no Haiti como Janconu.
Havia uma unidade cultural muito grande nos povos que viviam na África Central : Umbundo, Quibumbo, Muila.
E como essas culturas se relacionaram com outras culturas tão distintas e produziram algo similar? No caso o Congo.
Todos produziam algo que fazia referência ao Império do Congo, sendo a Congada parte dessa memória, a coroação de um rei e uma rainha: Nzinga Ambanti e Conde de Soio ( em algumas cantigas aparece como Conde de Sonho) e que faz referência a uma das partes do reino de Congo.
O corpo quando dança ele rememora, por isso cantigas e nomes são lembrados e presentes até hoje. Mas não é algo morto e estático há uma reconfiguração de memórias que vão gerando outras identidades.
Por que as manifestações do sudeste são menos lembradas que as do nordeste?
Em um determinado período alguns militantes, chefes de culto religioso foram muito presentes na construção da relação Brasil África e assim criou-se o que chamamos de Nagocentrismo, ou seja, só a cultura de Benin e Nigéria teria se mantido intacta aqui no Brasil, Manoel Quirino foi responsável pelo mapeamento de terreiros de candomblé da Bahia, anotando sobre culinária, vestimentas, dando uma visibilidade maior para essa especificidade cultural.
Prestitos (Zulu) e Menelick (antigo rei da Etiópia), eram uma guarda de Congo que antecedem os Afoxés, não era ligado ao carnaval. Antes do séc XX existia congadas de norte a sul do Brasil.
No Moçambique as vestimentas são saias (para homens), uma origem são os cristãos da Etiópia e outra é que os soberanos da África central usavam essa vestimenta.
Como o cristianismo é assimilado pelos africanos?
Pintar a Nossa Senhora, mãe de Jesus, de preto é uma das formas, pois se ela estiver branca não irá servir-los.
Os Europeus entram na África central para realizar comércio, no séc. XV o soberano do Congo é convidado a ir a Portugal, mas não vai e manda dois filhos, um morre por lá e outro volta e prega o cristianismo.
Mas o cristianismo já existia no séc. I na Etiópia, pois sua posição geográfica é próxima da Palestina, é uma outra forma de cristianismo, que não chega via Europa. A religiosidade européia é dogmática, um Deus único, sendo essa a evolução e a civilidade religiosa, o que desqualifica todas as práticas que não são cristãs. Na religiosidade os deuses tem relação com sua funcionabilidade.
Nzambi é reverenciado nas Congadas, é o criador para vários povos de cultura Bantu.
As congadas eram muito masculinas, mas nos últimos 15 anos há a presença de mulheres.
Em dezembro congadeir@s que são trabalhadores rurais, deixam de trabalhar e saem em grupos pequenos para arrecadar dinheiro.
O rei e a rainha pessoas que tiveram graças alcançadas de promessas que foram feitas para São Benedito, Nossa Senhora do Rosário e Santa Efigênia e houver mais de um aquele ano há uma eleição.
No Espirito Santo a Congada aparece como Ticumbi, Cicumbi em Santa Catarina em um bairro de comunidade negra que chama São Francisco do Sul, em Rio Grande do Norte de Congo de Saiote.
Todo ano vai ser feito o mesmo ritual, mas todos estão lá pra ver. Sempre há elementos novos, é uma reapresentação do ritual, há criações de novas composições e músicas. Começam a aparecer alfaias, instrumentos metálicos. Antes usava-se latões, barril, mas é preciso lidar com os acontecimentos, é algo vivo e mutável.
Em cidades onde a presença é mal vista, a Congada se apresenta como a presença negra em performance, ela se revela.
Na África o soberano era apresentado por uma banda musical, prática presente na Congada.
Já havia urbanicidade no continente africano.
Há 4 memórias do Congo:
1- Organização Social
2-Lutas Imperiais ( Rainha Nzimga/Conde de Soio)
3- Travessia do Atlântico
4- Cativeiro
Kalunga (aparece como boneca no Maracatu) é um lugar para onde iam os mortos, para água, onde os espíritos vão ficar. Por isso Nossa Senhora é encontrada no rio ou na grota de água.
As primeiras fotografias de Congo mostram os tambores no chão que é uma posição recorrente na África Central, os músicos estão de saia igual ao rei. Os comerciantes que tinham usar saias para serem reconhecidos como homens em território angolano.
A representação de reis negros no exílio são passagens de rituais reais a rituais simbólicos, de memória e identidade coletiva. No momento da representação é quando o negro tem visibilidade, fala sua língua e expressa sua corporalidade.
As irmandades negras eram espaços de negociação com o mundo branco. Mas faziam planejamentos e financiamentos de fugas e compra de alforrias. Os Congos são ligados as irmandades, financiavam instrumentos, alimentação e tecidos.
A polifonia africana está presente na Congada, no canto, na construção rítmica. No ocidente a repetição é monotonia, mas para os africanos é circularidade. Aquele que fixasse uma altura de uma nota, por exemplo, jamais esqueceria e a repetição traria então autonomia na hora de compor e grupo, pois a música só acontece de forma coletiva, não há produtores, emissores, receptores, todos estavam envolvid@s.
O fato da Congada ser um batalhão tem haver com as guardas da rainha Nzimga, os Jagas, que aqui virou jagunço.
A Congada é uma das reconstruções de uma existência, pois os escravizados africanos saíram de seus lugares e não iriam poder voltar. Isso seria uma saúde cultural, reconstruir a humanidade de uma parcela da humanidade, exercer sua ancestralidade, comunicar uma estética que não é da norma.
Nos séc. XIX para o XX homens negros que praticavam culturas negras eram considerados loucos e em nome da saúde social (higiene social) eram levados para o manicômio.
Nem tudo é resistência e nem tudo é intercâmbio. Cultura é um indicador de saúde.
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